Do ponto de vista da saúde, nós já sabemos quais são os sintomas e as consequências causadas pelo novo Coronavírus, batizado de Covid-19. Entretanto, é difícil afirmar qual será o tamanho do estrago que a pandemia causada pelo vírus provocará na economia global e seus efeitos colaterais sobre a cadeia de suprimentos.

 

No início da crise, quando ainda não havia clareza sobre a extensão do problema e os casos de contaminação estavam restritos à China, muitos analistas diziam se tratar de um problema de abastecimento pontual. Hoje, após a disseminação do vírus por todos os continentes e com grande parte da indústria mundial atingida pela pandemia, já é possível prever que os danos – não apenas aqueles ligados à saúde da população - terão uma extensão maior do que inicialmente se previa.

 

Tendo em vista este cenário desafiador, o planejamento das empresas para lidar com os efeitos econômicos pós-pandemia será fundamental no momento de retorno as atividades e aceleração da economia. Nesse contexto o gerenciamento efetivo da cadeia de suprimentos será essencial para a regularização do abastecimento global, a volta do consumo das famílias e do crescimento mundial.

 

Regularização do Supply Chain e o Efeito Chicote

Entre os profissionais de Supply Chain e especialistas em S&OP (Sales & Operations Planning) existe um fenômeno bastante conhecido chamado efeito chicote, que se refere a grandes distorções na previsão de demanda e nos estoques ao longo da cadeia de abastecimento quando ocorre uma mudança no padrão de consumo de determinado produto. Estas mudanças intensas e repentinas nos parâmetros de planejamento causam uma série de complicações e desafios para os gestores da cadeia de suprimentos, levando a estoques excessivos, com perdas por vencimento da validade, ou ao desabastecimento desses produtos no mercado.

 

Momentos de crise como os que estamos vivendo hoje, em que há desabastecimento e demandas não atendidas, devido a interrupção de parte da produção mundial, são prenúncio do efeito chicote na futura retomada da produção.

 

Passado o período de restrições relacionadas ao convívio social e reestabelecida a normalidade, certamente haverá uma corrida para a regularização do abastecimento de determinados produtos e recomposição de estoques nos diversos elos das cadeias produtivas.

 

Como consequência, existe o risco de toda a cadeia de suprimentos trabalhar com parâmetros de planejamento que não são os reais, pois todos estão recompondo seus estoques, levando um tempo até o alinhamento entre demanda e oferta se estabilizar. Por isso é necessário que as empresas se preparem para este momento com antecedência, visto que esse fenômeno afetará fortemente o seu planejamento 

 

Supply Chain 4.0: Inteligência Artificial como aliada

Tendo em vista o cenário descrito acima e o possível efeito chicote que virá, como as empresas podem se preparar para lidar com essas adversidades que se avizinham?

 

Uma das alternativas que pode colaborar para a assertividade do planejamento e efetiva operação da cadeia de suprimentos é o uso de tecnologias digitais, também conhecidas como soluções de Supply Chain 4.0, que  se apoiam na inteligência artificial, ciência de dados, sistemas de gestão, machine learning, internet das coisas (IoT), dentre outras inovações disruptivas que surgem a toda hora para entregar respostas de maneira mais ágil e dinâmica.

 

No contexto de desequilíbrio entre demanda e oferta, tais ferramentas são grandes aliadas do gestor de S&OP, permitindo uma rápida resposta ao se identificar desvios no planejamento da cadeia de abastecimento.

 

Diversificação da matriz de fornecedores

A interrupção forçada no fluxo de mercadorias vindas da China, e potencialmente dos demais países fortemente afetados pela pandemia, também deixa evidente a necessidade de diversificação da matriz de fornecedores das cadeias de abastecimento.

 

Apesar da busca pela solução de maior valor agregado - custo total de aquisição, nível de serviço, qualidade e confiabilidade do suprimento -, continuar a ser o principal fator de decisão na hora da escolha do fornecedor, a crise causada pelo Covid-19 também nos mostra a importância de manter uma carteira de fornecedores equilibrada, diversificada e ativa.

 

Vale reservar uma porcentagem da compra de insumos para fornecedores alternativos locais e regionais que possam atender suas demandas em situações de emergência, evitando assim a interrupção total das operações da empresa.

 

Afinal, o planejamento de fornecedores (strategic sourcing) em uma economia globalizada e interconectada pode fazer toda a diferença em tempos de crise.

 

Assegurar processos básicos de planejamento: S&OP efetivo

Além da busca de soluções alternativas inovadoras e transformacionais, como mencionado acima, as empresas devem reforçar seus processos integrados de planejamento da cadeia de suprimentos, adotando visão estratégica E2E, que permitam orquestrar os processos de maneira colaborativa com todas as funções do negócio e os parceiros da cadeia, sejam eles fornecedores, clientes, prestadores de serviços ou até concorrentes.

 

As rotinas semanais e mensais do S&OP devem estar muito bem formalizadas, implementadas e azeitadas no dia-a-dia da organização para que, em momentos de crises ou incidentes como os que experimentamos com a pandemia de Covid-19, os gestores possam atuar de forma efetiva em condições adversas e não previstas.

 

Em tempos de crise é preciso manter a serenidade, o foco e a resiliência para superar as dificuldades e imprevistos que surgem a cada dia. Os desafios para o Supply Chain são muitos e diversos e, por isso, não existe uma fórmula do sucesso. Portanto, o profissional da área deve estar atento e aberto para soluções flexíveis, para aprender com os erros e rapidamente corrigir o rumo em um mundo cada vez mais VUCA: Volátil (Volatility), Incerto (Uncertainty), Complexo (Complexity) e Ambíguo (Ambiguity).