Um dos efeitos causado pelo coronavírus que pode ser observado não diz respeito à saúde das pessoas, mas sim aos seus hábitos de consumo. Com as restrições de circulação e o comércio físico fechado (shoppings e lojas de rua), muitos brasileiros migraram para compras pela internet, o que gerou um crescimento acumulado de impressionantes 47% nas vendas via comércio eletrônico durante o mês de abril, segundo estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm).
Mais do que evidenciar a necessidade da transformação digital como peça-chave para o sucesso dos negócios no longo prazo, a pandemia mostrou que essa quebra de paradigma é essencial para a própria sobrevivência das empresas no curto prazo.
Abrindo novos canais de venda
Do dia para noite, diversos estabelecimentos foram forçados a baixar as portas por conta da pandemia. Seus negócios, que dependiam de um canal de venda único e que estavam alicerçados no contato físico com os consumidores, foram inviabilizados. Este é o caso, por exemplo, de restaurantes, bares e lojas de bens de consumo duráveis.
Com isso, a única alternativa para atender os clientes passou a ser a venda on-line com entrega residencial. Entretanto, muitos negócios não estavam preparados para este tipo de operação, visto que ela exige diferentes: processos, tecnologias, organização, infraestrutura logística e competências; desde a apresentação do produto, passando pela venda em si até culminar na entrega ao consumidor final.
Neste contexto, o e-commerce é, sem dúvida, um facilitador para empresários e executivos que precisam atender essas novas demanda geradas por novos hábitos de consumo e compra. Mas é preciso levar em consideração alguns fatores na hora de se aventurar nesse novo canal de vendas.
Implantar uma loja virtual exige um investimento que nem todos os empreendedores têm condições de fazer, principalmente no momento em que estão descapitalizados. Por isso vale a pena considerar o ingresso no mundo do e-commerce de forma indireta através de marketplaces, que nada mais são do que uma espécie de shopping centers virtuais. Exemplos bastante conhecidos são o Mercado Livre, Amazon, Americas.com e o da Magazine Luiza. Isso sem contar os aplicativos e plataformas de delivery, como o IFood e Rappi.
A vantagem de começar pelos marketplaces é que eles facilitam a implantação do modelo de vendas on-line: aproveita-se a visibilidade dessas plataformas muito difundidas e confiáveis para começar a operação de e-commerce na rede, alavancando o investimento em comunicação e marketing dessas empresas. Para quem precisa de rapidez e flexibilidade neste momento, é uma alternativa que deve ser considerada.
Entretanto, essa agilidade tem seu preço, visto que é cobrada comissão sobre as vendas, que deve ser considerada na avaliação do novo modelo de negócio e entrar na sua planilha de custos. Adicionalmente, não há acesso a base de clientes, o que cria uma dependência estratégica com esse parceiro, além da concorrência acirrada dentro da própria plataforma, que trabalha com diversas empresas do mesmo setor.
No longo prazo, a criação de um site e/ou plataforma de e-commerce próprios é vantajosa para empresas de muitos setores. Ao desenvolver uma loja virtual oficial, em contraponto ao marketplace, consegue-se criar campanhas de fidelização, conhecer e ter acesso direto aos clientes, entender e mapear seus hábitos de consumo, além de financeiramente eliminar a comissão sobre as vendas, por exemplo.
Oportunidade de gerar novas receitas
Ao iniciar a operação de venda pela internet, as empresas também estão criando a oportunidade de gerar receitas incrementais que não existiam antes da pandemia. Por se tratar de um novo canal de vendas, com a abertura do comércio físico e o fim das medidas de isolamento social, o e-commerce será uma fonte de receita adicional para empresas que ainda não estavam presentes no mundo digital.
Além disso, no momento é difícil mensurar quão profunda será a mudança nos hábitos de consumo no pós-pandemia. Mas o fato é que ela irá acontecer. Pessoas que não se sentiam confortáveis para realizar compras pela rede ou que tinham medo de fazê-las, foram obrigadas a ter contato com esse universo. Ao experimentar a comodidade de fazer compras sem sair de casa, é provável que uma boa parte desse grupo mudará de opinião sobre o e-commerce, passando a fazer compras on-line com maior frequência. Por isso, mais do nunca, estar presente no mundo on-line será uma questão de sobrevivência para os negócios, tanto no curto como no longo prazo.
Para que essa estratégica de diversificação e expansão do negócio para o mundo on-line seja bem sucedida, atendendo às expectativas dos consumidores sem gerar frustrações, é necessário que um novo supply chain seja criado, customizado às necessidades do e-commerce, maximizando as sinergias com as operações existentes. Nos próximos artigos exploraremos mais o conceito Omni Channel e os desafios do supply chain nessa nova realidade.